No ano passo a Revista Miranda pediu-me que escrevesse sobre esse assunto.
Porque razão os cosméticos esfarelam na nossa pele?
Bem visto, é uma dúvida muito comum porque é mais frequente do que eu imaginava! E por uma boa razão (já vos conto qual), resolvi trazer o tema para o meu canto!
Isto já aconteceu consigo, em algum momento da sua vida?
Logo depois de aplicar os produtos de cuidado da pele, inclusivamente o protetor solar, ou mesmo a maquilagem, se passar a mão pelo rosto sente que traz pequenos vestígios desses mesmos produtos?
Depois do tema anterior, o Skin Cycling, ter dado que falar no chat meu meu Instagram, juntamente com algumas observações que fui recebendo, acredito que encontre aqui o motivo pelo qual é tão importante respeitar a pele.
Se leu o artigo sobre Skin Cycling, ao terminar de ler este vai compreender como podemos não ter a consciência de que a estamos a danificar a pele com algumas práticas que, no final de contas, acreditamos serem as corretas!
Devo adiantar, desde já, que não existe uma única causa para que os produtos esfarelem na pele. Existem causas variadas e conjuntas. Mas é uma grande dor de cabeça, principalmente quando o investimento nos produtos é alto e nossas expetativas ficam aquém.
A experiência com os produtos de cuidados para pele é demasiado subjetiva quando nos referimos aos cosméticos, quer sejam aplicados na pele do rosto ou do corpo. Seja pela textura ou pela sua performance VS propósito, não temos todos os mesmos resultados pretendidos, ainda que façamos o passo-a-passo seguindo as indicações do fabricante.
Esta disparidade entre resultados é facilmente compreendida na medida em que a nossa pele é única, os nossos hábitos de vida variam, a história da nossa pele é particular e, verdade seja dita, a nossa dedicação aos cuidados de pele depende da importância que damos aos resultados que pretendemos e quanto os desejamos!!
Hoje em dia é fácil ter acesso a experiências pessoais acerca de determinados cosméticos, muito frequente no meio digital pelos criadores de conteúdo, bem como revisões e estudos clínicos in vitro e ex vivo disponibilizados por algumas marcas.
A verdade é que rapidamente se percebe, ao ler determinadas opiniões, que um mesmo cosmético tanto pode ser considerado incrível, como o inverso, que resultou num mau investimento.
Querendo ou não todos somos influenciados pelos relatos de experiências sobre a utilização dos cosméticos, sendo que a formação de grumos após aplicação de um hidratante, protetor solar ou base, o conhecido “esfarelar” ou rolling, é o aspeto que mais facilmente nos leva a deixar um produto a meio, o que resulta em desperdício.
Na minha opinião não existem maus produtos, mas na realidade parece existir uma certa probabilidade para certos produtos esfarelarem, nomeadamente o protetor solar, e isso nota-se precisamente nas experiências que os consumidores descrevem.
Do ponto de vista da formulação dos produtos existem várias opiniões para o fenómeno do esfarelamento. Há quem diga que pode existir incompatibilidade entre produtos, mas outros experts referem que isso é altamente improvável. Contudo não deixa de ser um fenómeno que muitos de nós já experienciámos.
O problema é que além de inestético e desagradável, compromete a eficácia dos produtos.
Quanto ao protetor solar é mais provável que os minerais possam levar ao esfarelamento, na presença de filtros como o óxido de zinco e dióxido de titânio. O protetor solar é o produto que deve ser utilizado como último passo dos cuidados de pele, sendo o seu propósito formar uma barreira à superfície da mesma, a qual deve ser uniforme. Como vê na imagem em cima, um exemplo ensaiado de como seriam zonas da pele não protegidas. Se o protetor solar esfarela, não cumpre a sua função de forma eficaz.
A formação de aglomerados após a aplicação do protetor solar compromete esta uniformização necessária à proteção da pele, na sua extensão.
É difícil prever quais são os produtos que podem esfarelar, e será sempre ingrato atribuir a causa do esfarelamento de um produto cosmético apenas com base nos seus ingredientes, até porque a lista INCI não confere toda a informação sobre o cosmético. Por outro lado, a não ser que se trate de um formulador ou uma pessoa com expertise na área da formulação, será um grande desafio saber quais são os ingredientes de várias fórmulas que podem interagir entre si. Dessa forma, e para não complicar algo que perspectivámos prático, os meus conselhos assentam sobretudo no cuidado da pele, nas quantidades aplicadas e na forma de utilização dos produtos!
O meu primeiro conselho aplica-se ao cuidado da pele, isto é, à manutenção da sua hidratação e textura.
A xerose cutânea (pele seca) pode ser uma causa, às vezes pouco evidente, para o esfarelamento dos produtos aplicados. É mais provável que a pele seca apresente descamação e ao aplicar um creme a tendência para formar grumos é maior. Se tem pele seca, evite de todo lavar o rosto com água quente. Mas, em boa verdade, todos os tipos de pele devem usar água tépida ou fria (não gelada!)
A textura mais áspera e irregular pode explicar este fenómeno, pelo que manter cuidados que promovam a renovação epidérmica (esfoliação) será essencial para que a sua superfície seja o mais suave possível, e dessa forma o produto seja espalhado de forma mais uniforme.
Mas cuidado! A esfoliação indevida, em excesso ou em defeito, também pode levar à da desidratação da pele, e mais tarde descamação.
O meu segundo conselho diz respeito às quantidades aplicadas.
Quando se aplica uma quantidade de produto superior à necessária existe um excedente que permanece na superfície da pele. A quantidade necessária para hidratação da pele do rosto equivale, em média, ao tamanho de uma avelã; a quantidade semelhante ao tamanho de duas avelãs poderá servir para hidratar a pele do rosto além do pescoço e decote, caso aprecie aplicar o seu creme habitual nestas duas regiões.
O meu terceiro conselho refere-se à forma de aplicação dos produtos.
Os produtos devem ser aplicados na pele e espalhados, não friccionados nem esfregados. Independentemente da textura do sérum ou creme, o importante é aplicar a quantidade necessária pelo rosto e depois espalhar com suavidade e da seguinte forma: das sobrancelhas e têmporas em direção à raíz do cabelo; no terço médio e inferior do rosto espalhar do centro para o exterior. No pescoço e região submentoniana o produto deve ser espalhado em movimentos latero-ascendentes, tal como na zona do decote.
Bom, se chegou até aqui e sentiu que cumpre todos conselhos dados, parabéns! Contudo, calculo que ainda assim mantenha este handicap ao aplicar os seus produtos... O que fazer então? Verdade seja dita, existem outras causas que não sendo esfarelamento se podem confundir com ele, quer ao aplicar hidratantes, protetores solares ou maquilhagem.
O mais comum tem a ver com o uso de renovadores celulares, os conhecidos ácidos esfoliantes, ou com o uso de retinóides.
[Se ainda não sabe o que isto é, então recomendo a leitura do artigo referido anteriormente.]
O objetivo dos ácidos esfoliantes e dos retinóides é, respetivamente, a sua ação queratolítica e a diferenciação do tecido epitelial, que diz respeito à epiderme. Assim, podemos esperar do seu uso sintomas de ardor ou prurido, bem como sinais de vermelhidão e descamação. Esta descamação é um fenómeno possível do uso de ácidos esfoliantes e do uso de alguns retinóides, e é precisamente a renovação da pele.
Algumas pessoas utilizam este tipo de produtos num base diária e toleram. Alguns tipos de pele têm mais textura do que outras. Mas, em contrapartida, em outros tipos de pele, a barreira cutânea pode estar danificada, desidratada e a descamar.
Claro está que esta descamação será acelerada com o ato mecânico da aplicação do creme hidratante, protetor solar ou até da base (mais provável quando aplicada com os dedos das mãos).
Por isso, é importante que esteja sensibilizado para esta possibilidade, porque talvez a causa do esfarelamento não seja dos produtos mas da forma utilização dos mesmos. E se sente familiarizado com esta situação, o Skin Cycling pode ser uma opção para si!
Dicas práticas para contornar esta situação, existem? Claro!
Skincare & Makeup Tips:
Skincare:
Avaliar a hidratação da pele;
Aplicar apenas e somente a quantidade necessária de sérum e creme hidratante;
Não friccionar os produtos na pele, mas sim espalhar;
Relativamente ao uso do fotoprotetor a aplicação em camadas poderá ser uma estratégia. Ao aplicar a quantidade correta, três dedos de comprimento de produto, experimente ir aplicando aos poucos, por zonas, ao invés de aplicar toda a quantidade de uma vez só;
Pode experimentar fazer um intervalo entre a colocação do sérum ou cuidado hidratante, e o protetor solar. Por exemplo, fazer uma tarefa entre um passo e outro. Mas não se esqueça. Deixe o protetor solar num lugar bem visível para não sair de casa sem o colocar.
Makeup | BB/CC Cream:
Esperar entre a aplicação do protetor solar e da maquilhagem, ou seja, não aplicar de seguida;
Utilizar um pincel ou esponja para aplicar a base ou o creme com cor. Apesar da aplicação com as mãos parecer mais prática, uma vez mais a aplicação com fricção é altamente provável usando esta técnica. A esponja, humedecida, pode ser uma boa opção, pois o produto é literalmente aplicado na pele com leves batidas.
Não se esqueça de garantir que fecha bem as embalagens dos seus produtos, não os deixando expostos ao ar.
Espero que esta informação tenha sido útil.
Partilhe nos comentários sugestões de dicas e qual a sua experiência pessoal.
Para ler artigo na Revista Miranda, pode aceder aqui!
Obrigada por ler!
Joana
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