Os cuidados pessoais passam por várias esferas, e uma delas é a saúde e o bem-estar, onde o uso de cosméticos tem um papel preponderante, e aqui estou a convergir o tema para o cuidado da pele. Assim, sempre se abriram portas para explorar os temas relacionados com o cuidado da pele, e o uso de maquilhagem também, onde a ciência e o conhecimento popular se cruzam a todo o momento.
A indústria dos cosméticos cresce rapidamente, com mais marcas a surgir, cada uma delas com as suas ideologias e condutas. É um desafio acompanhar tudo isto! Também a tecnologia e a inteligência artificial ganham cada vez mais terreno para oferecer melhores resultados e experiências.
Já as redes sociais têm a capacidade de facilitar o acesso a novas marcas e tendências, seja pelo Instagram ou Tik Tok. Apesar da tendência para ler informação em blogues sobre o tema ser inferior, comparativamente com a última década, este meio de comunicar nunca se erradicou e, verdade seja dita, o on-line está cada vez mais forte. As revistas ainda são um meio de comunicação incrível, e contam com uma panóplia de pessoas que colaboram com a sua experiência e conhecimento em diferentes áreas. Com isto tudo é possível "ter o mundo na mão" ou, como se diz, "à distância de um clique", com acesso rápido a muita informação. Mas muitas vezes também surgem tendências que, parecendo não ter lógica, nos fazem pensar sobre os assuntos.
Cuidar da pele é saúde, mas também é moda, e não deixa de ser política porque o acesso a alguns cosméticos está sujeito ao contexto social e económico dos países.
Das várias tendências que vão surgindo relativas ao cuidado da pele, o skin fasting e o slugging têm sido os mais recentes, mas na realidade não são propriamente uma novidade. Hoje em dia é comum nomear técnicas e tendências, quase como se fossem patenteadas.
SKIN FASTING
Pode ser entendido como um jejum da pele. Consiste em suspender todos os cuidados para, supostamente, dar à pele um intervalo, um descanso.
Este conceito toma lugar numa altura em que as rotinas de beleza são bastante completas e, por vezes, desprovidas do conhecimento necessário na hora de escolher os produtos, a forma de os usar e em que situações. Nos últimos anos o uso de ácidos esfoliantes e de retinóides tornou-se muito popular. A facilidade em encontrar marcas que oferecem uma conjugação de ingredientes interessante para efeitos de renovação da pele, ou de produtos com um ingrediente estrela, é imensa, e isso torna a escolha desafiante. Mas quanto maior a oferta, maior a procura. E em termos de valores, pode afirmar-se que existem opções para todas as carteiras.
Com o objetivo de retardar o envelhecimento cutâneo, de melhorar a aparência das hiperpigmentações e ajudar no controlo da exacerbação de alguns sintomas dermatológicos, não demorou muito tempo para que as comunidades médica e científica começassem a alertar para os danos da barreira cutânea, fruto do uso exagerado deste tipo de produtos. Assim se aprofundou a abordagem ao microbioma, aos prebióticos e pós-bióticos, quanto à sua importância para a saúde da pele, dando-lhe apenas que ela precisa.
O que pode ser, contudo, uma boa intenção, a meu ver a promoção de rotinas mais curtas, e por isso mais sustentáveis, e que não danifiquem a pele ao pecar por excesso, também pode conduzir à perda de algumas "conquistas". Isto é, tal como algumas patologias necessitam de manutenção no seu tratamento, a pele (como órgão que é) também pode requerer determinados cuidados específicos. Ao suspender determinados cuidados, ainda que de forma temporária, poder-se-á assistir ao inverso do pretendido. É importante saber que a pele pode não "se restabelecer" nem "melhorar".
O que possa levar a uma decisão de suspensão total de determinados cuidados com a pele, deve ser um alerta de que o plano em andamento não será, possivelmente, o certo. Não me parece que alguém que esteja confortável com os resultados e efeitos, queira suspendê-los. Reduzir o número de passos e produtos? Sim, isso fará sentido! Outro argumento para se aderir ao skin fasting é na expectativa de desintoxicar a pele, "fazer um detox". Isto não tem qualquer veracidade! Algumas pessoas ainda acreditam que a pele se habitua aos produtos, razão pela qual deixam de os usar. Esta ideia também não tem qualquer validade.
SLUGGING
Da palavra inglesa SLUG, que significa lesma, não é mais do que uma comparação entre o aspeto brilhante e hidratado deste molusco gastrópode, com o efeito que se dá à pele aquando da finalização com agentes oclusivos, onde a vaselina é o mais vulgar.
Um oclusivo pode melhorar a hidratação da pele, prevenindo a desidratação por evaporação da água. Mas não é a única forma de hidratar a pele, e pode não ser a mais indicada consoante o seu tipo e estado.
A hidratação é aquele cuidado que fará sentido para todos, seja qual for a idade e o tipo de pele. A hidratação permite não apenas o bom funcionamento da barreira cutânea, como como oferece à pele um aspeto mais luminoso e avolumado, isto é, o turgor. E por isso, também mais resistente. A par com a proteção solar, é um dos melhores cuidados preventivos do envelhecimento da pele.
Beber água, por si só, não permite que a pele esteja mais hidratada. Usar ingredientes hidratantes de forma tópica é, ainda, a forma mais rápida, mas não tão duradoura. E é aqui que o slugging entra! Ocluir a pele, com vaselina, garantidamente a deixará mais hidratada e permitirá, de certa forma, o contato por mais tempo entre a pele e os produtos colocados anteriormente.
Mas, como em tudo, existem aspetos menos positivos. Enquanto que uma pele muito seca poderá sentir conforto com esta técnica, já uma pele com tendência acneica ou oleosa não dirá o mesmo, com prejuízo da obstrução dos folículos. A pele com rosácea também não costuma ser adepta, pois a oclusão pode aumentar a temperatura da pele, e isso ser o trigger para as exacerbações (vermelhidão e sensação de queimadura).
Se já utilizar uma essência, sérum ou creme hidratante que cumpra a sua função, o slugging não terá de ser uma necessidade.
As tendências devem abrir-nos portas a outras visões sobre os assuntos, levando-nos a questionar se a nossa prática faz sentido, se devia ser aprimorada ou modificada. As tendências não devem ser olhadas com devoção, mas como uma porta que se abre à discussão sobre temas, os quais devem ser abordados com ligeireza e não de forma ditatorial, independentemente de quanto se domina o tema ou a área de conhecimento.
Apesar de tudo, as necessidades da pele devem ter prioridade sobre qualquer tendência, onde nem sempre a eficiência se verifica.
Obrigada por ler!
Joana
Comments